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Nelson Mandela


segunda-feira, 24 de maio de 2010

TRABALHANDO COM MITOS AFRICANOS

COMEÇAMOS O 2º BIMESTRE TRABALHANDO COM O MITO A ÁRVORE QUE PRENDEU A MULHER DO ENTALHADOR,

A árvore que prendeu a mulher do entalhador.

De repente, numa aldeia africana, não nascia mais criança. A barriga das mulheres secara. Os homens não teriam mais descendentes. Todos os remédios conhecidos foram tentados, mas nenhum funcionou. As mulheres continuavam estéreis, não engravidavam.

Aquele povo ia desaparecer por falta de novas gerações, pois sem crianças um povo morre.

Então um dia as mulheres foram consultar Ifá, o Adivinho, e Ifá desvendou o segredo, a causa da tragédia. PERTO DA CIDADE HAVIA UMA ÁRVORE ENORME. Era uma gameleira branca, habitada por um orixá chamado Iroco. Iroco era muito querido pela comunidade da aldeia, que ele protegia e ajudava.

Mas fazia um bom tempo que a aldeia se esquecera de IROCO. Ninguém mais ia visitá-l com oferendas, ninguém enfeitava o tronco da gameleira branca com belos laços de tecido colorido, como era costume antigo. Iroco estava triste e ressentido. Iroco se vingava nas mulheres, secando suas barrigas. Ifá, o Adivinho recomendou às mulheres: "Levai presentes para Iroco e tudo voltará ao normal, como antigamente.”.

As mulheres que na maioria eram esposas de lavradores prepararam as mais ricas comidas com milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros, as mais deliciosas bebidas, muitos laços coloridos, muitas flores, enfim, todo tipo de presente. E foram ofertar aos pés da gameleira branca. Todas arriavam seus presentes e falavam com Iroco, "Aceita esta oferenda, meu pai, e me dá filhos", dizia uma.

Dizia outra suplicando: "Eis aqui comida de tua predileção, querido orixá. Faz crescer minha barriga." E outra mais, implorando: "Dá um filho ao meu marido.”.

E assim, uma depois da outra, todas as mulheres foram fazendo seus votos. Cantavam e dançavam em redor da Árvore, prestando suas homenagens. Então chegou a vez de uma mulher chamada Tomori, que nada trazia de presente a IROCO e que disse: "Orixá da Árvore, estou de mãos vazias porque nada tenho hoje em casa que te possa oferecer. Meu marido é entalhador e há semanas não vende nada, porque todos nós estamos tão tristes, tão desesperados que ninguém mais quer comprar nenhum adorno desses que meu marido faz. Dá-me um filho, senhor, e te darei depois o que me for mais caro e precioso.”.

Iroco aceitou as oferendas e promessas de todas as mulheres, inclusive a promessa de Tomori. Nove meses e pouco depois, em meio a muita felicidade, o que mais se ouvia no povoado era choro de criança. Tudo voltara ao normal e as mulheres levavam muitos presente a Iroco para agradecer.

Tomori, a mulher do entalhador, sabia que estava em dívida e foi consultar Ifá, o Adivinho. Ele lhe disse que Iroco estava esperando que ela levasse a ele o filho de presente, conforme prometido.

A mulher ficou lívida e protestou: "Não, não prometi dar meu filhinho querido para Iroco." O Adivinho retrucou: "Prometeste dar o que fosse mais caro e precioso, não”?”E perguntou:” Não é o filho que tiveste o bem mais caro e precioso que tu tens?”“

Tomori não podia dar o filho adorado a Iroco. Não, não daria, e o marido jamais consentiria. Não, nunca! Então ela passou a evitar a gameleira branca. Sempre desviava da árvore ao passar por perto. E o menino foi crescendo, cada vez mais forte e mais bonito, cada vez mais amado pelo entalhador e sua mulher.

Um dia Tomori se descuidou e passou junto da gameleira. Iroco imediatamente transformou a mulher num pássaro e o prendeu na copa de sua árvore. O entalhador procurava a mulher pó toda parte e não a encontrava. Triste e sozinho foi criando o filho que crescia cada vez mais forte e mais bonito, cada vez mais amado pelo entalhador.

Muitas pessoas que passavam pela grande árvore escutavam um pássaro cantar assim:

Ai da mulher que prometeu o menininho / Não deu e Iroco fez dela um passarinho / E seu castigo ficar presa, sempre presa. / Ai da mulher que prometeu o garotinho.

Essa história logo chegou aos ouvidos do entalhador. Seu dilema foi tremendo: para salvar a mulher, tinha que sacrificar o filho. Se não entregasse a criança, a mulher continuaria prisioneira: libertaria a mulher, sim, mas perderia a criança. Aflito, foi falar com Ifá, o Adivinho, que disse: “Meu caro entalhador Babaerê, há poucos mistérios na vida, meu amigo. A vida ensina. Aprende com ela. Usa a tua arte e tudo se resolverá. Nada mais posso dizer. Segue o teu caminho." Assim falou o adivinho, e deu por encerrada a consulta.

Babaerê, o marido de Tomori, ficou intrigado. O que o adivinho queria dizer com aquelas palavras?

Chegando a casa, pensativo, sentou-se num banquinho vigiando de perto o filho que começava a engatinhar. Como quem não quer nada, só por distração, Babaerê pegou do chão um pedaço de pau, um lenho de gameleira branca, e com sua faca de entalhador começou a entalhar.

Pouco a pouco, à medida que tirava lascas e raspava o pau, foi esculpindo na madeira uma figurinha querida, com feições muito familiares: o retrato do menino. "Usa a tua arte e tudo se resolverá", rememorou com nitidez a resposta do adivinho e, de repente, compreendeu o que deveria fazer.

Babaerê, movido por um profundo sentimento de angústia, esperança e determinação, tudo junto, entalhou o boneco mais perfeito que já fizera na vida. O boneco de pau da gameleira branca era a cara do menino de carne e osso e o pai até se emocionou ao constatar a incrível semelhança.

Terminado o boneco de pau, pintou em seu rosto o mais gentil sorriso, perfumou-o com ervas frescas e vestiu-o com as melhores roupas do filho. Depois, resoluto e esperançoso, caminhou em direção á gameleira. Pôs o menino de madeira aos pés da árvore e disse: "Meu grande pai Iroco, eis aqui nossa oferenda. Aqui está o menino que minha mulher prometeu. Liberta minha mulher Tomori, meu pai Iroco.”.

Enquanto isso, lá no alto da copa enorme e ombria, o passarinho cantava:

Ai da mulher que prometeu o menininho / Não deu e Iroco fez dela um passarinho / É seu castigo ficar presa, sempre presa / Ai da mulher que prometeu o garotinho.

Iroco olhou para o boneco de pau e imediatamente transformou o pássaro em mulher. Chorando de alegria, ela desceu da árvore e se refugiou nos braços do marido. Depois dos abraços, foram ambos correndo para casa para se reunir com o filhinho, o verdadeiro.

Iroco, a árvore, aceitou o presente oferecido e teve razões especiais para isso. Primeiro, achou o menino muito parecido consigo mesmo, pois ele era feito do mesmo material de seu corpo: o pau de gameleira. Além disso, tinha o cheiro de suas folhas, hum que delicia! Aceitou-o como filho seu, legitimo, carne de sua carne.

Aceitou – como filho seu legitimo, lenho de seu lenho.

Segundo, encantou-se com o sorriso perene da criança.

Terceiro Iroco adorou o fato de que o menino não chorava nunca. Sempre silencioso, sempre em paz com a vida!

Que pai que não vai desejar ter um filho parecido consigo, que não chore e que sorria sempre?

Sim, Iroco, a Árvore, aceitou o presente e teve razões especiais para isso.

E viveram felizes por muito tempo...

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